quarta-feira, 19 de março de 2008

Problemas e Adiamentos

Meus fiéis leitores (eu duvido que tenha mais do que 2), hoje fui criar vergonha na cara e iria marcar o contorno do Fundo, e cortar a madeira. Qual não foi minha surpresa ao pegar a tábua e descobrir que ela tinha ficado encanoada... :(

Pois bem, sem muitas alternativas resolvi ligar para o vendedor que me vendeu a madeira explicando a situação e querendo saber se isso era normal ou não, afinal de contas ele me vendeu a madeira como se já estivesse seca, então imaginava que isso não deveria acontecer. O vendedor foi muito gente boa e bastante atencioso e tentou me ajudar de várias formas, ou devolvendo o dinheiro, ou ainda me dando outra tábua (mas já avisando que isso poderia acontecer de novo).

No final das contas ele me deu outra tábua de peroba-mica (muirajuçara) que ele disse estar mais seca e com melhor aparência e veios mais lineares do que a outra. Ele também deu a dica de molhar a madeira e deixar ela descansando por no mínimo uns 30-45 dias antes de mandar aparelhar a madeira, assim ela deve perder água de forma mais equilibrada e se ela encanoar quando eu aparelhar o encanoamento some. Isso não quer dizer que ela não possa encanoar depois, mas minimiza bastante as chances.

Então vou ter que adiar a construção do Qin até a madeira estar bem seca e eu poder mandar ela para aparelhar. Vou ter o gasto de mais um aparelhamento, mas ainda é melhor gastar apenas com um aparelhamento extra do que ter que comprar outra tábua e ainda assim gastar com outro aparelhamento para a nova tábua.

Vou tentar aproveitar essa "folga" na construção para pesquisar mais sobre as cordas, e já ir planejando e fazendo minha máquina de fazer cordas. Também já posso começar a fazer experiências com a "cola-liga" das cordas.

terça-feira, 4 de março de 2008

Madeira para o Fundo

Hoje comprei a tábua que vou usar para fazer o fundo. Ao lado está a tábua junto com o tampo do Qin.

O madeireiro me recomendou Peroba-mica. Eu dei uma pesquisada e encontrei ela na página do IBAMA com o nome Muirajuçara. As características dela parecem ser interessantes. A madeira para o fundo precisa ser pesada e rígida para conter o som dentro do Qin.

Na teoria a produção do som no Qin funciona assim: os dedos fazem as cordas vibrarem; a ponte e a pestana transmitem a vibração das cordas para o tampo; como o tampo é feito de uma madeira mais flexível ele vibra produzindo ondas dentro do interior do Qin; as ondas são forçadas a sair pelas aberturas na parte debaixo do fundo liberando assim o som. Se o fundo não for rígido e pesado o suficiente, ele irá vibrar junto com o tampo, diminuindo muito a produção de ondas no interior do Qin e deixando o som com um volume muito baixo e sem substância.

Goivas

Ontem comprei estas duas goivas ao lado. Uma de 1/2" e outra 1".

Eu pretendia comprar uma até maior do que 1", mas foi apenas isso que encontrei. Se for pensar bem acho que até tive sorte, aqui no Brasil é extremamente difícil encontrar ferramentas mais específicas (como as goivas) e as que a gente encontra costumam ter péssima qualidade.

Eu não sei se estas goivas são boas ou não, isso só vou descobrir com o uso, mas fiz um teste em um pedaço de madeira e gostei de trabalhar com elas.

sábado, 1 de março de 2008

A Abóbada Celestial É Arqueada

Hoje era o dia de fazer a curvatura do topo, não poderia mais evitar, todas as etapas anteriores já estavam concluídas. Para fazer a curvatura eu teria APENAS que ir aplainando a superfície toda até todos os furos de referência fiz anteriormente sumirem. Ao mesmo tempo que isso soa simples isso também soa MUITO complexo, afinal como vou aplainar uma coisa em forma de curva?

Ao lado vocês podem ver a quantidade de material retirada da tábua de madeira e eu posso dizer que ela está bem mais leve agora. Eu acredito que ela está com metade do peso original de quando comecei a fazer o Qin, ou menos ainda.

Quando comecei o trabalho em pouco tempo peguei o jeito com a plaina, e fui indo ao poucos, ajustando a lâmina para tirar a quantidade de madeira necessária. Não poderia querer tirar demais senão a plaina iria travar, nem de menos, senão ela não iria remover material nenhum.


A parte mais complexa foi a área da ponte, já que ela possui uma concavidade.

Ao lado é possível observar como é a concavidade na ponte terminada. A partir dos ombros a superfície começa a descer, passando pelo pescoço até o começo da nuca e atinge o ponto mais baixo na altura da ponte, após isso ela se eleva um pouco até o final da testa.

Eu comecei o trabalho por esta área, aí eu fazia um pouco do corpo, e após um tempo voltava novamente para ela, e indo e voltando várias vezes até o final. Sempre corrigindo e ajustando as subidas e descidas e tomando cuidado em não aplainar contra o grão da madeira.

A superfície do Qin também exigiu muitos cuidados, ela não poderia ter nenhuma ondulação no sentido longitudinal da cauda aos ombros.

Ao lado é possível ver a linha central (por onde passa a quarta corda) com a régua por cima, e embora não dê para perceber muito bem pela foto, a superfície ficou excelente, a maior ondulação visível nela tem menos de 1mm de altura.

Se eu deixasse alguma ondulação na área das cordas, elas iriam bater na superfície enquanto estivessem vibrando assim como um violão ou guitarra com a ação muito baixa acaba trastejando.

Ao lado e abaixo estão as fotos do resultado final.

E no final das contas hoje foi o dia mais prazeroso desde que comecei a trabalhar com o Qin. Acho que fiquei trabalhando por umas 3 horas pelo menos, mas foi muito recompensador ver a madeira tomar forma.

A partir de agora devo começar a pesquisar sobre a madeira que vou usar para fazer a base do Qin. Espero já comprá-la na semana que vem.

Com a conclusão desta importante etapa no processo hoje eu senti com muita satisfação que estava realmente construindo um Qin.

Desta forma terminei o quarto capítulo do segundo volume do Yugu Zhai Qinpu: "A Abóbada Celestial É Arqueada"!