segunda-feira, 28 de abril de 2008

Dúvidas sobre a máquina de cordas

Ivan comentou na minha postagem anterior:
"Não entendi como se giram as cordas. E não seria melhor colocar no lado com 4 pontos, os pontos em círculo (ou no caso de ter 4 um quadrado)? do jeito que está, no final da torção os cabos da ponta estarão mais tensionados que os do centro."

Sobre isso, ele está semi-correto. Várias máquinas de cordas tem os ganchos arrajandos em forma de triângulo (3 feixes) ou quadrado (4 feixes), e por teoria isso faria com que a tensão fosse mais equilibrada em todos os feixes, já que todos estariam à mesma distância do gancho principal (onde todas os feixes são ligados).

Vamos fazer alguns cálculos:
O espaço entre os ganhos da minha máquina é aproximadamente 3,5 cm, eu vou enrolar cordas com 2 metros no mínimo. Considerando que o gancho principal esteja perfeitamente alinhado com os ganchos individuais, nós podemos calcular qual será o tamanho de cada feixe. Os dois feixes internos estão há aproximadamente 1,7 cm do centro da máquina, e os dois feixes externos estão há aproximadamente 5,2 cm do centro.

Encarando um triângulo com vértices no centro da máquina com ganchos individuais, no gancho principal, e no gancho em questão; nós conseguiremos saber os comprimentos exatos de cada feixe. Considerando então o maior cateto como a distância entre as duas máquinas (2 metros) e as distâncias do centro até os ganchos como os catetos menores, a hipotenusa de cada gancho será o comprimento do respectivo feixe:
Feixes internos: H^2 = 200^2 + 1,7^2 => H = 200,0072 cm
Feixes externos: H^2 = 200^2 + 5,2^2 => H = 200,0675 cm

Ou seja, a diferença entre as cordas seria 0,0603 cm, ou aproximadamente seis décimos de milímetros. Uma diferença insignificante que pode ser desprezada.

Então se a torção é mesma em todas as cordas, por que o design com os ganhos em forma de círculo é mais utilizado? Porque na hora de torcer os feixes e formar a corda propriamente dita, quanto mais circular for a disposição dos feixes, mais uniformemente a corda será torcida.

No meu caso essa falta de uniformidade não chegaria a ser um problema, como estou fazendo cordas com um diâmetro muito pequeno (não mais de 2mm) esta uniformidade deixa de ser relevante em função da enorme praticidade que eu ganho na hora de esticar os feixes utilizando um design de ganchos linear. Ainda assim, a corda que fiz com a minha máquina, mesmo sem ter utilizado um separador de fios - que é outra peça que ainda não fiz e que produz uma corda ainda mais uniforme - ficou perfeitamente uniforme.

PS: Outra coisa importante a ser lembrada, a corda ainda será mergulhada em "cola material" que é um agente adesivo utilizado para que a corda fique o mais próximo possível de ser um cabo único.

PS2: Eu pretendo no futuro postar algumas fotos da máquina em funcionamento para faciliar o entendimento do funcionamento dela.

sábado, 26 de abril de 2008

Máquina de Cordas

Esta semana depois de ficar parado um bom tempo resolvi começar a montar a máquina de cordas, fiz o primeiro protótipo que pode ser visto ao lado.

Como vocês podem perceber, minha habilidade manual para esse tipo de coisa não é lá muito boa. Falta de equipamentos adequados e improvisações dá nisso. Felizmente a maquininha parecia funcionar bem, identifiquei alguns problemas iniciais, e já pensei em algumas formas de melhorar o projeto dela.

O funcionamento dela é meio estranho de entender se você não sabe como uma máquina de cordas funciona, mas na realidade é bem simples.


De um lado nós temos uma ponta onde os feixes de fios são presos aos ganchos separadamente, as escolhas mais comuns são 2, 3 e 4 feixes. Eu preferi utilizar 4 para obter uma corda mais "arredondada" se é que isso faz algum sentido para vocês. Nesta ponta embora os ganchos sejam separados, eles se movimentam em conjunto e no mesmo sentido. Do outro lado nós temos apenas um gancho onde todos os fios são presos juntos.

O princípio do funcionamento é o seguinte: nós separamos os fios em feixes (4 neste caso) e prendemos os feixes nos ganchos separados, e a outra ponta nós prendemos todos eles no único gancho. Depois, os ganhos separados serão girados num sentido (ex: anti-horário), e isso fará com que os fios de cada feixe fiquem torcidos. Se você juntar um monte de fios e girá-los dessa forma, embora isso pareça uma corda assim que você soltar eles irão começar a se destorcer.

Aí que entra a função da outra ponta. Depois que os fios dos feixes foram torcidos o suficiente (a torção em todos eles é a mesma pois os ganhos se movimentam em conjunto), você sai desta ponta e vai para a outra, e lá você irá girar o único ganho no sentido contrário ao sentido da ponta anterior (neste caso, sentido horário). Isso fará que com os 4 feixes comecem a se torcer como os fios deles se torceram. Se você ainda não entendeu o que acontece eu te explico a mágica: como você tem os fios dos feixes tentando se destorcer para um sentido e os próprios feixes tentando se destorcer para o outro, um segura o outro no lugar e a corda permanece estável. :)

É assim que são feitos a maior parte dos barbantes, cordas e linhas não trançadas.

Para o teste inicial fiz a corda mais fina possível utilizando 4 feixes, uma corda de 8 fios. Ela ficou com um 0,4 mm diâmetro e com 0,26 g/m linear, medidas que estavam dentro do previsto inicialmente, o que é um ótimo sinal.

Eu queria testar a corda, aí aproveitei o violino que tenho em casa e que estava faltando uma corda para testar o som. Coloquei a corda no lugar; calculei a frequência que a corda produziria com uma tensão de 5 kg no violino (660 Hz ou E5, exatamente a corda que estava faltando), afinei e toquei um pouco a corda. A sonoridade dela lembra um pouco a do nylon mas mais suave. Ela também vibra por um bom tempo (não medi, mas acho que uns 5 segundos) considerando que é uma corda mais curta, mais leve e menor do que uma corda do Qin, achei tudo isso excelente.

O melhor seria fazer um teste com uma corda mais longa, com mais tensão, e com um tom mais grave, mas pelos resultados preliminares acho que as cordas que vou fabricar irão funcionar bem. :)

quarta-feira, 19 de março de 2008

Problemas e Adiamentos

Meus fiéis leitores (eu duvido que tenha mais do que 2), hoje fui criar vergonha na cara e iria marcar o contorno do Fundo, e cortar a madeira. Qual não foi minha surpresa ao pegar a tábua e descobrir que ela tinha ficado encanoada... :(

Pois bem, sem muitas alternativas resolvi ligar para o vendedor que me vendeu a madeira explicando a situação e querendo saber se isso era normal ou não, afinal de contas ele me vendeu a madeira como se já estivesse seca, então imaginava que isso não deveria acontecer. O vendedor foi muito gente boa e bastante atencioso e tentou me ajudar de várias formas, ou devolvendo o dinheiro, ou ainda me dando outra tábua (mas já avisando que isso poderia acontecer de novo).

No final das contas ele me deu outra tábua de peroba-mica (muirajuçara) que ele disse estar mais seca e com melhor aparência e veios mais lineares do que a outra. Ele também deu a dica de molhar a madeira e deixar ela descansando por no mínimo uns 30-45 dias antes de mandar aparelhar a madeira, assim ela deve perder água de forma mais equilibrada e se ela encanoar quando eu aparelhar o encanoamento some. Isso não quer dizer que ela não possa encanoar depois, mas minimiza bastante as chances.

Então vou ter que adiar a construção do Qin até a madeira estar bem seca e eu poder mandar ela para aparelhar. Vou ter o gasto de mais um aparelhamento, mas ainda é melhor gastar apenas com um aparelhamento extra do que ter que comprar outra tábua e ainda assim gastar com outro aparelhamento para a nova tábua.

Vou tentar aproveitar essa "folga" na construção para pesquisar mais sobre as cordas, e já ir planejando e fazendo minha máquina de fazer cordas. Também já posso começar a fazer experiências com a "cola-liga" das cordas.

terça-feira, 4 de março de 2008

Madeira para o Fundo

Hoje comprei a tábua que vou usar para fazer o fundo. Ao lado está a tábua junto com o tampo do Qin.

O madeireiro me recomendou Peroba-mica. Eu dei uma pesquisada e encontrei ela na página do IBAMA com o nome Muirajuçara. As características dela parecem ser interessantes. A madeira para o fundo precisa ser pesada e rígida para conter o som dentro do Qin.

Na teoria a produção do som no Qin funciona assim: os dedos fazem as cordas vibrarem; a ponte e a pestana transmitem a vibração das cordas para o tampo; como o tampo é feito de uma madeira mais flexível ele vibra produzindo ondas dentro do interior do Qin; as ondas são forçadas a sair pelas aberturas na parte debaixo do fundo liberando assim o som. Se o fundo não for rígido e pesado o suficiente, ele irá vibrar junto com o tampo, diminuindo muito a produção de ondas no interior do Qin e deixando o som com um volume muito baixo e sem substância.

Goivas

Ontem comprei estas duas goivas ao lado. Uma de 1/2" e outra 1".

Eu pretendia comprar uma até maior do que 1", mas foi apenas isso que encontrei. Se for pensar bem acho que até tive sorte, aqui no Brasil é extremamente difícil encontrar ferramentas mais específicas (como as goivas) e as que a gente encontra costumam ter péssima qualidade.

Eu não sei se estas goivas são boas ou não, isso só vou descobrir com o uso, mas fiz um teste em um pedaço de madeira e gostei de trabalhar com elas.

sábado, 1 de março de 2008

A Abóbada Celestial É Arqueada

Hoje era o dia de fazer a curvatura do topo, não poderia mais evitar, todas as etapas anteriores já estavam concluídas. Para fazer a curvatura eu teria APENAS que ir aplainando a superfície toda até todos os furos de referência fiz anteriormente sumirem. Ao mesmo tempo que isso soa simples isso também soa MUITO complexo, afinal como vou aplainar uma coisa em forma de curva?

Ao lado vocês podem ver a quantidade de material retirada da tábua de madeira e eu posso dizer que ela está bem mais leve agora. Eu acredito que ela está com metade do peso original de quando comecei a fazer o Qin, ou menos ainda.

Quando comecei o trabalho em pouco tempo peguei o jeito com a plaina, e fui indo ao poucos, ajustando a lâmina para tirar a quantidade de madeira necessária. Não poderia querer tirar demais senão a plaina iria travar, nem de menos, senão ela não iria remover material nenhum.


A parte mais complexa foi a área da ponte, já que ela possui uma concavidade.

Ao lado é possível observar como é a concavidade na ponte terminada. A partir dos ombros a superfície começa a descer, passando pelo pescoço até o começo da nuca e atinge o ponto mais baixo na altura da ponte, após isso ela se eleva um pouco até o final da testa.

Eu comecei o trabalho por esta área, aí eu fazia um pouco do corpo, e após um tempo voltava novamente para ela, e indo e voltando várias vezes até o final. Sempre corrigindo e ajustando as subidas e descidas e tomando cuidado em não aplainar contra o grão da madeira.

A superfície do Qin também exigiu muitos cuidados, ela não poderia ter nenhuma ondulação no sentido longitudinal da cauda aos ombros.

Ao lado é possível ver a linha central (por onde passa a quarta corda) com a régua por cima, e embora não dê para perceber muito bem pela foto, a superfície ficou excelente, a maior ondulação visível nela tem menos de 1mm de altura.

Se eu deixasse alguma ondulação na área das cordas, elas iriam bater na superfície enquanto estivessem vibrando assim como um violão ou guitarra com a ação muito baixa acaba trastejando.

Ao lado e abaixo estão as fotos do resultado final.

E no final das contas hoje foi o dia mais prazeroso desde que comecei a trabalhar com o Qin. Acho que fiquei trabalhando por umas 3 horas pelo menos, mas foi muito recompensador ver a madeira tomar forma.

A partir de agora devo começar a pesquisar sobre a madeira que vou usar para fazer a base do Qin. Espero já comprá-la na semana que vem.

Com a conclusão desta importante etapa no processo hoje eu senti com muita satisfação que estava realmente construindo um Qin.

Desta forma terminei o quarto capítulo do segundo volume do Yugu Zhai Qinpu: "A Abóbada Celestial É Arqueada"!

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Gabarito para Curvatura do Topo

Hoje finalmente fiz o gabarito para furar o topo e criar as referências na hora de fazer a curvatura.

Como eu já disse no post anterior eu iria utilizar outro método para fazer os gabaritos do topo, e hoje eu resolvi criar vergonha na cara e fazer. Depois de muito medir e serrar, finalmente fiquei com todos os gabaritos de MDF no tamanho necessário para regular a profundidade do furos. Ao lado vocês podem vê-los. São 9 gabaritos que serão utilizados da cauda até os ombros, mais 5 gabaritos que serão utilizados no pescoço e na testa, e outros 5 que serão utilizados na ponte.


O números dos gabaritos (0-8 e 0-4) indicam a sequência da profundidade dos furos sendo 0 o mais raso (no centro do Qin) e 8 (ou 4) o mais profundo (nas bordas do Qin). Ao lado dá para ver uma parte da cauda com os furos. São 10 seções com 16 furos (160 furos), mais 9 furos no pescoço, 9 na ponte, e 7 na testa, totalizando 185 furos. Todos feitos com furadeira manual, e furados duas vezes (a segunda para conferir a profundidade).

Agora como os furos estão em profundidades diferentes, se eu for aplainando até todos os furos sumirem e mantendo uma superfície uniforme, no final eu terei o tampo com a curvatura desejada. Para isso eu terei que plainar BASTANTE, e com MUITO cuidado, um deslize pode indicar desde um re-trabalho enorme para tentar recuperar o tampo ou no pior caso que eu gastei todo este tempo para ter uma tábua de madeira sem utilidade alguma.

No final de semana espero começar a fazer a curvatura do tampo.