segunda-feira, 28 de abril de 2008

Dúvidas sobre a máquina de cordas

Ivan comentou na minha postagem anterior:
"Não entendi como se giram as cordas. E não seria melhor colocar no lado com 4 pontos, os pontos em círculo (ou no caso de ter 4 um quadrado)? do jeito que está, no final da torção os cabos da ponta estarão mais tensionados que os do centro."

Sobre isso, ele está semi-correto. Várias máquinas de cordas tem os ganchos arrajandos em forma de triângulo (3 feixes) ou quadrado (4 feixes), e por teoria isso faria com que a tensão fosse mais equilibrada em todos os feixes, já que todos estariam à mesma distância do gancho principal (onde todas os feixes são ligados).

Vamos fazer alguns cálculos:
O espaço entre os ganhos da minha máquina é aproximadamente 3,5 cm, eu vou enrolar cordas com 2 metros no mínimo. Considerando que o gancho principal esteja perfeitamente alinhado com os ganchos individuais, nós podemos calcular qual será o tamanho de cada feixe. Os dois feixes internos estão há aproximadamente 1,7 cm do centro da máquina, e os dois feixes externos estão há aproximadamente 5,2 cm do centro.

Encarando um triângulo com vértices no centro da máquina com ganchos individuais, no gancho principal, e no gancho em questão; nós conseguiremos saber os comprimentos exatos de cada feixe. Considerando então o maior cateto como a distância entre as duas máquinas (2 metros) e as distâncias do centro até os ganchos como os catetos menores, a hipotenusa de cada gancho será o comprimento do respectivo feixe:
Feixes internos: H^2 = 200^2 + 1,7^2 => H = 200,0072 cm
Feixes externos: H^2 = 200^2 + 5,2^2 => H = 200,0675 cm

Ou seja, a diferença entre as cordas seria 0,0603 cm, ou aproximadamente seis décimos de milímetros. Uma diferença insignificante que pode ser desprezada.

Então se a torção é mesma em todas as cordas, por que o design com os ganhos em forma de círculo é mais utilizado? Porque na hora de torcer os feixes e formar a corda propriamente dita, quanto mais circular for a disposição dos feixes, mais uniformemente a corda será torcida.

No meu caso essa falta de uniformidade não chegaria a ser um problema, como estou fazendo cordas com um diâmetro muito pequeno (não mais de 2mm) esta uniformidade deixa de ser relevante em função da enorme praticidade que eu ganho na hora de esticar os feixes utilizando um design de ganchos linear. Ainda assim, a corda que fiz com a minha máquina, mesmo sem ter utilizado um separador de fios - que é outra peça que ainda não fiz e que produz uma corda ainda mais uniforme - ficou perfeitamente uniforme.

PS: Outra coisa importante a ser lembrada, a corda ainda será mergulhada em "cola material" que é um agente adesivo utilizado para que a corda fique o mais próximo possível de ser um cabo único.

PS2: Eu pretendo no futuro postar algumas fotos da máquina em funcionamento para faciliar o entendimento do funcionamento dela.

sábado, 26 de abril de 2008

Máquina de Cordas

Esta semana depois de ficar parado um bom tempo resolvi começar a montar a máquina de cordas, fiz o primeiro protótipo que pode ser visto ao lado.

Como vocês podem perceber, minha habilidade manual para esse tipo de coisa não é lá muito boa. Falta de equipamentos adequados e improvisações dá nisso. Felizmente a maquininha parecia funcionar bem, identifiquei alguns problemas iniciais, e já pensei em algumas formas de melhorar o projeto dela.

O funcionamento dela é meio estranho de entender se você não sabe como uma máquina de cordas funciona, mas na realidade é bem simples.


De um lado nós temos uma ponta onde os feixes de fios são presos aos ganchos separadamente, as escolhas mais comuns são 2, 3 e 4 feixes. Eu preferi utilizar 4 para obter uma corda mais "arredondada" se é que isso faz algum sentido para vocês. Nesta ponta embora os ganchos sejam separados, eles se movimentam em conjunto e no mesmo sentido. Do outro lado nós temos apenas um gancho onde todos os fios são presos juntos.

O princípio do funcionamento é o seguinte: nós separamos os fios em feixes (4 neste caso) e prendemos os feixes nos ganchos separados, e a outra ponta nós prendemos todos eles no único gancho. Depois, os ganhos separados serão girados num sentido (ex: anti-horário), e isso fará com que os fios de cada feixe fiquem torcidos. Se você juntar um monte de fios e girá-los dessa forma, embora isso pareça uma corda assim que você soltar eles irão começar a se destorcer.

Aí que entra a função da outra ponta. Depois que os fios dos feixes foram torcidos o suficiente (a torção em todos eles é a mesma pois os ganhos se movimentam em conjunto), você sai desta ponta e vai para a outra, e lá você irá girar o único ganho no sentido contrário ao sentido da ponta anterior (neste caso, sentido horário). Isso fará que com os 4 feixes comecem a se torcer como os fios deles se torceram. Se você ainda não entendeu o que acontece eu te explico a mágica: como você tem os fios dos feixes tentando se destorcer para um sentido e os próprios feixes tentando se destorcer para o outro, um segura o outro no lugar e a corda permanece estável. :)

É assim que são feitos a maior parte dos barbantes, cordas e linhas não trançadas.

Para o teste inicial fiz a corda mais fina possível utilizando 4 feixes, uma corda de 8 fios. Ela ficou com um 0,4 mm diâmetro e com 0,26 g/m linear, medidas que estavam dentro do previsto inicialmente, o que é um ótimo sinal.

Eu queria testar a corda, aí aproveitei o violino que tenho em casa e que estava faltando uma corda para testar o som. Coloquei a corda no lugar; calculei a frequência que a corda produziria com uma tensão de 5 kg no violino (660 Hz ou E5, exatamente a corda que estava faltando), afinei e toquei um pouco a corda. A sonoridade dela lembra um pouco a do nylon mas mais suave. Ela também vibra por um bom tempo (não medi, mas acho que uns 5 segundos) considerando que é uma corda mais curta, mais leve e menor do que uma corda do Qin, achei tudo isso excelente.

O melhor seria fazer um teste com uma corda mais longa, com mais tensão, e com um tom mais grave, mas pelos resultados preliminares acho que as cordas que vou fabricar irão funcionar bem. :)

quarta-feira, 19 de março de 2008

Problemas e Adiamentos

Meus fiéis leitores (eu duvido que tenha mais do que 2), hoje fui criar vergonha na cara e iria marcar o contorno do Fundo, e cortar a madeira. Qual não foi minha surpresa ao pegar a tábua e descobrir que ela tinha ficado encanoada... :(

Pois bem, sem muitas alternativas resolvi ligar para o vendedor que me vendeu a madeira explicando a situação e querendo saber se isso era normal ou não, afinal de contas ele me vendeu a madeira como se já estivesse seca, então imaginava que isso não deveria acontecer. O vendedor foi muito gente boa e bastante atencioso e tentou me ajudar de várias formas, ou devolvendo o dinheiro, ou ainda me dando outra tábua (mas já avisando que isso poderia acontecer de novo).

No final das contas ele me deu outra tábua de peroba-mica (muirajuçara) que ele disse estar mais seca e com melhor aparência e veios mais lineares do que a outra. Ele também deu a dica de molhar a madeira e deixar ela descansando por no mínimo uns 30-45 dias antes de mandar aparelhar a madeira, assim ela deve perder água de forma mais equilibrada e se ela encanoar quando eu aparelhar o encanoamento some. Isso não quer dizer que ela não possa encanoar depois, mas minimiza bastante as chances.

Então vou ter que adiar a construção do Qin até a madeira estar bem seca e eu poder mandar ela para aparelhar. Vou ter o gasto de mais um aparelhamento, mas ainda é melhor gastar apenas com um aparelhamento extra do que ter que comprar outra tábua e ainda assim gastar com outro aparelhamento para a nova tábua.

Vou tentar aproveitar essa "folga" na construção para pesquisar mais sobre as cordas, e já ir planejando e fazendo minha máquina de fazer cordas. Também já posso começar a fazer experiências com a "cola-liga" das cordas.

terça-feira, 4 de março de 2008

Madeira para o Fundo

Hoje comprei a tábua que vou usar para fazer o fundo. Ao lado está a tábua junto com o tampo do Qin.

O madeireiro me recomendou Peroba-mica. Eu dei uma pesquisada e encontrei ela na página do IBAMA com o nome Muirajuçara. As características dela parecem ser interessantes. A madeira para o fundo precisa ser pesada e rígida para conter o som dentro do Qin.

Na teoria a produção do som no Qin funciona assim: os dedos fazem as cordas vibrarem; a ponte e a pestana transmitem a vibração das cordas para o tampo; como o tampo é feito de uma madeira mais flexível ele vibra produzindo ondas dentro do interior do Qin; as ondas são forçadas a sair pelas aberturas na parte debaixo do fundo liberando assim o som. Se o fundo não for rígido e pesado o suficiente, ele irá vibrar junto com o tampo, diminuindo muito a produção de ondas no interior do Qin e deixando o som com um volume muito baixo e sem substância.

Goivas

Ontem comprei estas duas goivas ao lado. Uma de 1/2" e outra 1".

Eu pretendia comprar uma até maior do que 1", mas foi apenas isso que encontrei. Se for pensar bem acho que até tive sorte, aqui no Brasil é extremamente difícil encontrar ferramentas mais específicas (como as goivas) e as que a gente encontra costumam ter péssima qualidade.

Eu não sei se estas goivas são boas ou não, isso só vou descobrir com o uso, mas fiz um teste em um pedaço de madeira e gostei de trabalhar com elas.

sábado, 1 de março de 2008

A Abóbada Celestial É Arqueada

Hoje era o dia de fazer a curvatura do topo, não poderia mais evitar, todas as etapas anteriores já estavam concluídas. Para fazer a curvatura eu teria APENAS que ir aplainando a superfície toda até todos os furos de referência fiz anteriormente sumirem. Ao mesmo tempo que isso soa simples isso também soa MUITO complexo, afinal como vou aplainar uma coisa em forma de curva?

Ao lado vocês podem ver a quantidade de material retirada da tábua de madeira e eu posso dizer que ela está bem mais leve agora. Eu acredito que ela está com metade do peso original de quando comecei a fazer o Qin, ou menos ainda.

Quando comecei o trabalho em pouco tempo peguei o jeito com a plaina, e fui indo ao poucos, ajustando a lâmina para tirar a quantidade de madeira necessária. Não poderia querer tirar demais senão a plaina iria travar, nem de menos, senão ela não iria remover material nenhum.


A parte mais complexa foi a área da ponte, já que ela possui uma concavidade.

Ao lado é possível observar como é a concavidade na ponte terminada. A partir dos ombros a superfície começa a descer, passando pelo pescoço até o começo da nuca e atinge o ponto mais baixo na altura da ponte, após isso ela se eleva um pouco até o final da testa.

Eu comecei o trabalho por esta área, aí eu fazia um pouco do corpo, e após um tempo voltava novamente para ela, e indo e voltando várias vezes até o final. Sempre corrigindo e ajustando as subidas e descidas e tomando cuidado em não aplainar contra o grão da madeira.

A superfície do Qin também exigiu muitos cuidados, ela não poderia ter nenhuma ondulação no sentido longitudinal da cauda aos ombros.

Ao lado é possível ver a linha central (por onde passa a quarta corda) com a régua por cima, e embora não dê para perceber muito bem pela foto, a superfície ficou excelente, a maior ondulação visível nela tem menos de 1mm de altura.

Se eu deixasse alguma ondulação na área das cordas, elas iriam bater na superfície enquanto estivessem vibrando assim como um violão ou guitarra com a ação muito baixa acaba trastejando.

Ao lado e abaixo estão as fotos do resultado final.

E no final das contas hoje foi o dia mais prazeroso desde que comecei a trabalhar com o Qin. Acho que fiquei trabalhando por umas 3 horas pelo menos, mas foi muito recompensador ver a madeira tomar forma.

A partir de agora devo começar a pesquisar sobre a madeira que vou usar para fazer a base do Qin. Espero já comprá-la na semana que vem.

Com a conclusão desta importante etapa no processo hoje eu senti com muita satisfação que estava realmente construindo um Qin.

Desta forma terminei o quarto capítulo do segundo volume do Yugu Zhai Qinpu: "A Abóbada Celestial É Arqueada"!

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2008

Gabarito para Curvatura do Topo

Hoje finalmente fiz o gabarito para furar o topo e criar as referências na hora de fazer a curvatura.

Como eu já disse no post anterior eu iria utilizar outro método para fazer os gabaritos do topo, e hoje eu resolvi criar vergonha na cara e fazer. Depois de muito medir e serrar, finalmente fiquei com todos os gabaritos de MDF no tamanho necessário para regular a profundidade do furos. Ao lado vocês podem vê-los. São 9 gabaritos que serão utilizados da cauda até os ombros, mais 5 gabaritos que serão utilizados no pescoço e na testa, e outros 5 que serão utilizados na ponte.


O números dos gabaritos (0-8 e 0-4) indicam a sequência da profundidade dos furos sendo 0 o mais raso (no centro do Qin) e 8 (ou 4) o mais profundo (nas bordas do Qin). Ao lado dá para ver uma parte da cauda com os furos. São 10 seções com 16 furos (160 furos), mais 9 furos no pescoço, 9 na ponte, e 7 na testa, totalizando 185 furos. Todos feitos com furadeira manual, e furados duas vezes (a segunda para conferir a profundidade).

Agora como os furos estão em profundidades diferentes, se eu for aplainando até todos os furos sumirem e mantendo uma superfície uniforme, no final eu terei o tampo com a curvatura desejada. Para isso eu terei que plainar BASTANTE, e com MUITO cuidado, um deslize pode indicar desde um re-trabalho enorme para tentar recuperar o tampo ou no pior caso que eu gastei todo este tempo para ter uma tábua de madeira sem utilidade alguma.

No final de semana espero começar a fazer a curvatura do tampo.

domingo, 24 de fevereiro de 2008

Marcação para Curvatura do Topo

Hoje fiz as marcações de referência para depois fazer a furação de gabarito para a curvatura do topo do tampo.

O primeiro passo para isso foi fazer traçar a linha central e a linha das bordas da primeira e sétima cordas do Qin. Para isso usei Giz de Linha, foi minha primeira experiência com ele e gostei bastante, é lógico que não tem a precisão de uma linha traçada com estilete e uma régua de aço, mas para medidas longas e que aceitem uma pequena margem de erro é excelente. Ao lado dá para ver o resultado.

Depois de ter traçado as linhas de giz lembrei que precisava riscar uma linha em toda volta da lateral do tampo do ponto mais baixo da curvatura.


Para isso usei um graminho feito na hora com dois pedaços de MDF pregados e colados em 90° e um prego como riscador na distância certa. Ao lado está o graminho e como a linha que risquei com ele não ficou muito visível na foto eu tracei uma linha azul para facilitar a visualização.

Embora eu não tenha tido problemas em fazer esta marcação, teria sido melhor fazer isso ANTES de traçar linhas de giz, já que com o movimento do graminho e da minha mão passando por cima elas ficaram um pouco apagadas em alguns pontos mas nada que tenha atrapalhado.

Após isso eu precisava fazer os gabaritos para fazer a furação dos pontos de referência para o tampo. Para fazer isso eu precisava preparar 13 papéis com divisões nos pontos corretos, no papel da Cauda do Qin eu iria fazer o traçado da curvatura do tampo. Baseado nas divisões, eu iria transpor os pontos de cruzamento deste papel para todos os outros 12, dessa forma projetando a curvatura em vários pontos do Qin. Depois estes papéis seria colados em pedaços de madeira (eu iria utilizar MDF), os pedaços de MDF seriam cortados de acordo com o tamanho do papel, e furados no sentido da linhas de divisões do papel. Depois de ter furado todos, eu teria que cortar o MDF seguindo o contorno da curvatura de cada papel, e só então eu usaria estes 13 gabaritos de MDF como gabarito para fazer os furos de referência no tampo do Qin. Ufa!!

Isso daria um grande trabalho, eu fiz o primeiro papel, transpuz para o segundo, e então resolvi seguir outra idéia que já tinha tido antes. Apenas marcar no tampo quais seriam os pontos a serem furados e fazer um único gabarito de profundidades de furo em MDF. Eu ainda precisei fazer todos os papéis com todas as divisões, mas ao invés de colar em MDF e cortar o MDF eu colei eles direto no tampo eu tracei os pontos de cruzamento já no tampo. Desta forma basta eu alinhar a profundidade adequada com o ponto certo e ir furando. O grande problema deste método é que a chance de eu fazer um furo errado é maior, então vou ter que ter atenção triplicada.

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Little Old Qin Maker

Para quem não sabe, Jim Binkley é o principal responsável por essa minha aventura. Graças à sua excelente tradução do Yugu Zhai Qinpu para o inglês e sua enorme paciência respondendo minhas muitas dúvidas. Se não fosse com a ajuda dele talvez eu nunca tivesse ido atrás dessa idéia.

Ele também tem outra responsabilidade, ele tem um blog onde ele fala dos Qins que ele já construiu e está construindo, e a minha idéia de fazer um blog descrevendo a construção de um Qin foi inspirada no blog dele. :)

Então, quem tiver interesse visite também o blog do meu "mentor", o Litte Old Qin Maker.

PS: I hope that somehow he can understand something that I write in portuguese. ;)

Furadeira Manual

Comprei uma furadeira manual para transportar os furos dos gabaritos de MDF para o tampo, estes furos vão servir de referência e guia para a curvatura do tampo então precisam ter uma profundidade e precisão perfeita. Como eu não confio em utilizar uma furadeira elétrica para fazer furos com essa precisão resolvi apelar para a antiguidade, dessa forma eu tenho total controle sobre a pressão e rotação da furadeira, a desvantagem é uma furação mais lenta e mais cansativa.

Essa furadeira também será extremamente útil quando eu for fazer os furos para passagem do Rong Kou (fio esticador) que segura as cordas. Estes furos precisam ser bem perpendiculares e a furadeira manual parece ter um feedback muito bom para esse tipo de furo.

Contornos do Tampo - Parte 3

Hoje fiz mais alguns contornos no tampo do Qin, trabalhei especificamente na ponta da cauda, na cintura e comi um pouco mais do pescoço. Também serrei a cabeça e a cauda para o tamanho correto já que eu havia deixado uns 2 cm de sobra no corte inicial para não ter problemas de lascamento. Ao lado vocês podem ver que aquela tábua de Freijó já está começando a se parecer com um Qin de verdade. :)

Como o que eu fiz hoje foi basicamente desbastar madeira em rebaixo (cintura) ou comer os cantos (causa) ou curvar o contorno (pescoço) então o trabalho teve que ser feito usando basicamente formão e grossa, e isso CANSA, CANSA MUITO!


Como choveu precisei trabalhar dentro de casa, dentro da sala, vocês não fazem idéia da imundice que ficou o chão com serragem e pó.

Eu também retiro o que disse antes, uma bancada faz falta, mas também não pode ser uma bancada qualquer ela precisava ser grande, bem firme e ter duas morsas: uma para prender a madeira e trabalhar na lateral dela (útil para os contornos) e outra para travar a madeira deitada na horizontal para trabalhar no topo (plainar), além de vários grampos para prender a madeira para poder fazer cortes bem feitos.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2008

Teste de Material para as Cordas

Algumas pessoas me perguntaram onde eu vou arrumar as cordas para tocar o Qin. Aqui vai a explicação.

O Yugu Zhai Qinpu, ensina um método de fazer cordas de seda (o material tradicionalmente utilizado). Resumindo o método é mais o menos o seguinte:
1) Extrair os filamentos de seda e formar fios utilizando 12 filamentos;
2) Pegar a quantidade de fios necessárias para cada corda e através de um processo conhecido de torcimento as cordas torcidas;
3) As cordas são cozinhadas em uma solução chamada "cola material" compostas de várias resinas e colas vegetais;
4) As cordas mais grossas recebem um enrolamento externo (como cordas de violão).

Este processo tem 2 problemas principais: 1) eu não tenho onde conseguir seda em fios; 2) a "cola material" é extremamente complicada. Além destes dois problemas principais, o enrolamento das cordas mais grossas seria um problema também, mas no meu caso não será.

Inicialmente eu pensei em utilizar fios de nylon no lugar de seda. Fiz alguns testes com o nylon, mas as linhas ficaram muito grossas. Aí pensei em utilizar linha de pesca já que alguns tocadores de Qin já utilizaram este material em períodos de falta de produção de cordas seda, e hoje em dia o tipo de corda mais popular é um núcleo de metal recoberto de nylon (lembrando as cordas de violão). Mas também não ficou bom, as cordas seriam grossas demais, e teriam pouca flexibilidade.

Então resolvi tentar novamente com o nylon, mas desta vez quis substituir a "cola material" também. Fiz um teste com cola branca e tive um resultado pouco satisfatório, aí então pensei em utilizar goma arábica. Como ela é uma resina vegetal assim como a cola material, poderia funcionar. O resultado foi muito bom, mas as cordas ainda estavam grossas demais.

Foi então que pesquisando descobri que a densidade do Poliéster é maior do que o Nylon, sendo assim a corda feita com ele poderia ser mais fina. Comecei a correr atrás de poliéster e descobri que ele é bastante usado em linhas para bordar, e que têm um diametro ainda menor do que o nylon que eu estava utilizando. Ou seja eu teria que utilizar mais fios por serem mais finos, dessa forma o torcimento ficaria melhor (mais fios = melhor ajuste), e como a densidade do poliéster é maior, mesmo utilizando mais fios, a corda ficaria mais fina.

Comecei a procurar linhas para bordar, e deu bastante trabalho para encontrar. No final das contas encontrei apenas linhas em retrós de 170 metros (eu vou precisar MUITO mais do que isso), fiz algumas pesagens preliminares e o resultado foi ótimo. Ontem fiz uma corda com 50 fios, ela ficou com um diametro aproximado de 1,5 mm e massa linear de 1,9 g, resultados EXCELENTES.

A corda que eu fiz pode ser vista ao lado, infelizmente a câmera que estou usando não consegue fazer foco de perto. Na mesma foto dá para ter uma idéia de como é o nó utilizado para prender a corda na ponte. Agora só falta encontrar cones com grande quantidade de fio (4000 m), mas agora não estou muito preocupado com isso já que ainda falta muito para o Qin ficar pronto.

Ah, sobre o enrolamento adicional nas cordas mais grossas. Mesmo o poliéster sendo bem fino, ele ainda assim é mais grosso e pesado do que a seda, então se eu fosse fazer um enrolamento externo adicional a corda ficaria muito irregular e pesada por causa dessa grossura e peso adicional, e como o enrolamento é utilizado justamente para deixar a corda de seda mais uniforme e conferir mais peso à ela (o que não é necessário no meu caso), ele é totalmente dispensável. ;)

PS: Um dos motivos de eu ter adiado tanto a construção do Qin era a falta de um material adequado para fazer as cordas.

terça-feira, 19 de fevereiro de 2008

Plaina Nova e Testes

Esta é a plaina que comprei para auxilar na construção do Qin. Ela será usada para dar acabamento e se tudo der certo ajudará a formar a curvatura no topo do Qin.

Quando cheguei com ela em casa já fui afiar. Afiei, peguei um pedaço de madeira e fui tentar passar ela sem sucesso. Hoje pesquisando mais sobre afiação de plainas descobri como deveria ser o fio dela (em curva e não reto), fiz as alterações necessárias, afiei de novo e SUCESSO!!!


Pra não ficar testando só em pedaços de madeira resolvi passar ela na borda cortada do Qin, ela não precisaria ficar plana já neste estágio da construção (muito ainda será feito nela), mas não faria mal algum dar uma aplainada suave.

Ao lado vocês podem ver o resultado. A lateral não tinha muitas ondulações ou irregularidades (meu corte de serrote mesmo lento foi bom), mas a plaina ainda assim deixou a borda com um aspecto bem melhor. Ponto positivo!

Na foto abaixo, a tábua de madeira onde está a plaina foi meu primeiro teste. A cor avermelhada da madeira estava toda coberta por uma camada de madeira marrom acinzentada (visível ainda nas bordas). Dá pra ver que ela está trabalhando bem. :)

Este é o resultado do chão após os "testes". Então vou terminando este post e vou lá pegar a vassoura para deixar tudo limpinho para quando a patroa chegar em casa.

PS: Vocês perceberam que como não tenho bancada estou trabalhando no chão? Embora a bancada fosse me ajudar bastante, baseado no trabalho que estou tendo não sei se seria tão essencial assim. A peça que estou trabalhando é bem grande e o tipo de corte e tarefas que estou executando precisaria de uma grande bancada com uma grande morsa e vários grampos para fazer alguma diferença. Então melhor trabalhar no chão do que inventar moda e ficar bambeando numa mesa ou bancada pequena.

domingo, 17 de fevereiro de 2008

Contornos do Tampo - Parte 2

Hoje eu comecei a empreitada de fazer os contornos do tampo. Ao lado vocês podem ver a tábua em sua forma original (antes do corte exaustivo de ontem).

Comecei com o serrote com sua nova afiação (como descrevi no post anterior). Eu não sei se minha afiação não ficou tão boa, se minha habilidade é muito ruim ou se cortar madeira com serrote dá muito mais trabalho do que eu poderia imaginar, de qualquer jeito tive pena mais uma vez dos marceneiros pré-ferramentas elétricas.

Depois de suar bastante e ter um progresso medíocre resolvi apelar. Fui buscar a serra tico-tico e a serra circular.

Após mais um bom tempo brigando com a tico-tico, eu me lembrei que havia esquecido que ela puxa o corte para esquerda embaixo (o eixo deve estar torto). Felizmente não houve maiores problemas com isso, apenas perdi tempo.


Hora de usar a circular, como fiquei encanado por causa da margem de erro absurda da tico-tico e como a circular come madeira MUITO fácil fiquei receoso de cortar direto na linha e cortei com uma margenzinha de erro (~0,5 cm). O problema é que deixar uma margem de erro, não pouca trabalho algum, pelo contrário.

Após fazer o corte eu vi que ainda teria que serrar a margem de erro com o serrote. Burrice realmente não tem preço. E lá vamos nós, "serrando e suando e seguindo a marcação..." Após muitos minutos cortei uma das tiras, o resultado vocês podem ver ao lado, a tábua cortada com a circular e a margem de erro ao lado que precisei cortar no serrote.

Agora de parar para o almoço.

Depois de descansar um pouco voltei para cortar a outra tira lateral e percebi que gastei quase UMA hora para serrar aproximadamente 1 metro de freijó com 3cm de espessura. Realmente minha habilidade é podre e meu serrote é ruim... :(

Depois de fazer as retas, é hora de trabalhar nas curvas, e pra isso eu utilizei basicamente um formão 3/4" e grossa. Depois de MUITO tempo consegui deixar as curvas do jeito que queria.

O resultado de tudo isso vocês podem ver ao lado, a cabeça do Qin (na foto é a parte de baixo) ficou uns 2mm mais estreita do que deveria, mas não há problemas, como eu disse anteriormente, as medidas não estão escritas na pedra, e ainda assim essa margem de erro mais do que tolerável.

A única falha de verdade que ocorreu em todo processo foi uma lascada na parte de baixo da tábua quando estava comendo com o formão na curva do pescoço do tampo. Felizmente como eu vou ter que fazer uma curva em todo o tampo eu posso simplesmente virar a tábua e curvar a parte debaixo ao invés da de cima e essa lascada deixa de ser um problema já que ela será comida pela plaina.

sábado, 16 de fevereiro de 2008

Contornos do Tampo - Parte 1

Pretendia começar a cortar os contornos do tampo já no sábado (no mesmo dia que fiz as marcações). Me preparei como pude e fui ao trabalho.

Ao lado vocês podem ver a tábua presa na mesa (que falta faz uma bancada) com grampos de 1,99 e meu serrote recém adquirido (dito "Stanley" Luctator). Minha gata também marca presença supervisionando todo o processo.

Após meia hora serrando como um louco eu ainda estava na metade da tábua. Eu não sabia se a culpa era incompetência, serrote ruim, ou os dois, só sei que tive muita pena dos marceneiros pré-ferramentas elétricas.(veja foto abaixo).


Após terminar UM CORTE concluí que precisava tomar alguma atitude, o meu serrote era um serrote de desdobro, eu tentei comprar um universal/combinado mas não encontrei, sendo assim talvez uma afiação, alteração nos formatos dos dentes (para pirâmide), talvez desse resultado.

Peguei minha lima triangular e comecei a limar os dentes tentar deixá-los piramidais e afiá-los, após muito tempo de árdua inépcia consegui alterar o formato e deixar algo que parecia uma linha de corte afiada.

Como já era tarde e estava exausto deixei o resto para amanhã.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Ferramentas Básicas e Marcações no Tampo

Esta é a régua e a régua em T (esquadro) que eu fiz utilizando MDF para fazer as marcas de referência no topo do Qin.

A régua é graduda em polegadas chinesas antigas (~3,175 cm) indo de 0 até 40 polegadas (~127 cm). O esquadro tem uma pequena margem de erro, mas é mínima e como as marcações são mais referências do que regras escritas na pedra então passa.

Depois que comecei a marcar, eu descobri por que as réguas geralmente tem formato de cunha e a borda graduada fica bem próxima do plano. Uma régua espessa (esta tem 6mm de espessura) gera uma margem de erro na hora de transportar as medidas da graduação para o plano. :(


Esta é a mesma tábua já marcada, como vocês podem ver, eu precisei apelar para a régua de metal e a calculadora nas medidas menores e mais detalhadas (onde a margem de erro deveria ser menor). A borracha também foi MUITO utilizado para apagar marcações erradas e linhas tortas.

No final de contas as medidas ficaram dentro do esperado, com uma margem de erro total no comprimento total menor que 0,5%.

Madeira para o Tampo

Esta é a madeira que "escolhi" para fazer o tampo do Qin. Digo "escolhi" entre aspas pois na realidade eu precisei pegar alguma madeira que talvez funcionasse em substituição à Paulownia, já que ela não existe no Brasil.

O Jim [Binkley] me sugeriu utilizar Spruce, Maple, Cedar ou talvez Adler. O problema é que embora estas madeiras possam ser encontradas no Brasil (importadas é lógico), elas custariam muito caro. O bom sinal é que estas madeiras são utilizadas para fazer violões e guitarras, então eu posso procurar substitutos nacionais.

Algumas escolhas comuns de madeiras amazônicas para o tampo de um violão são: Marupá, Freijó, Munguba grande e Morototó. Quando fui procurar a madeira, eu descrevi o que pretendia fazer, e como deveria ser a madeira para o madeireiro e ele me recomendou Cedro, procuramos uma tábua boa e nas medidas que eu precisava, mas não encontrei nenhuma, ou ela tinha um nó no meio, ou era longa demais, etc.


No final das contas ele me recomendou Freijó, tinha uma tábua no tamanho perfeito que eu precisava e estava muito boa e sem defeitos aparentes. E esta foi a tábua que comprei. Espero que ela dê um bom tampo.

Ao lado vocês podem ver uma foto aproximada da madeira após ser aparelhada.

Sobre o Yugu Zhai

Para quem está se perguntando o que quer dizer o nome deste blog eu explico:
Yu: adequar-se, seguir, acatar;
Gu: antigo, antiguidade;
Zhai: estúdio.

Portanto: Estúdio "Seguindo com a Antiguidade".

Agora por que este nome em especial? Porque este era o nome do estúdio onde o mestre Chu Fengjie estudou o Qin. E este mesmo mestre escreveu um livro chamado Yugu Zhai Qinpu em 1855. Qinpu é um termo técnico descrevendo um tipo de livro devotado a músicas para o Qin, algo como um livro de partituras ou song-book.

O Yugu Zhai Qinpu, é um livro diferenciado pois não trata de músicas para o Qin. Ele é dividido em 4 volumes:
I - Examinando os tons das cordas: Faz uma análise detalhada da teoria de tons musicais chinesa.
II - Examinação detalhada dos materias e construção: É um tratado sobre construção de Qins.
III - Essenciais completos para o estudo do Qin: Ele apresenta tudo que alguém deveria saber sobre acessórios e procedimentos relacionados ao Qin.
IV - Explicação detalhada de como tocar melodias: Este volume fala sobre os símbolos de dedilhado, fornecendo explicações e diagramas.

Mas [infelizmente] eu não sei ler chinês [ainda]. Porém, existe uma versão traduzida de algumas seções do Yugu Zhai em inglês (todo volume II, algumas partes do III e todas as partes importantes do IV). E essa foi minha principal fonte de consulta, meu guia na construação do Qin.

Por isso, devo meus sinceros agradecimentos a Jim Binkley, um professor e pesquisador do departamento de Ciência da Computação da Universidade de Portland e um estudioso do Qin desde a década de 70 em Taiwan, por ter feito esta excelente tradução do Yugu Zhai, e também por ter me ajudado com minhas exaustivas dúvidas e questionamentos a respeito do Qin.

Embora o Yugu Zhai Qinpu, seja bem detalhado, algumas partes da explicação são muito confusas, vagas ou extremamente complexas (laqueação, feitura de cordas, construção de refinamentos, etc). Nestas horas a coisa aperta. Mas já pesquisei bastante e acredito que estou suficientemente preparado para embarcar nessa empreitada.

Agora que já expliquei o que é o Yugu Zhai Qinpu, espero que tenham entendido o nome deste blog. Ele nada mais é do que uma homenagem ao estúdio e ao autor do livro que estão me guiando e inspirando.

Introdução

Olá, primeiro vou me apresentar, meu nome é Luiz, sou um Brasileiro apaixonado por cultura chinesa, música e também marcenaria.

Já a muito tempo sonho em aprender a tocar o Qin (também chamado de Gu Qin), um instrumento música chinês, algumas vezes chamado de "cítara chinesa de 7 cordas". Mais informações sobre ele podem ser encontradas aqui: http://en.wikipedia.org/wiki/Guqin

Depois de chegar a conclusão que nunca encontraria um professor de Qin por aqui ou até mesmo algum lugar onde eu possa comprar um, decidi que eu mesmo deveria construir um Qin. Pesquisei muito sobre o assunto, e sempre fui postergando. Afinal de contas, construir um instrumento sem nenhum similar ocidental, que eu nunca nem mesmo vi ao vivo, é um projeto BASTANTE ambicioso.

Este ano resolvi que era hora de para de adiar e ao menos tentar. Passei duas semanas estudando o Yuguzhai Qinpu e tudo mais que encontrasse no caminho sobre construção e design do Qin. Nessa semana que passou comprei algumas ferramentas que iria precisar, comprei a madeira, e agora irei iniciar finalmente a construção.